SOLDADOS DE CHUMBO?


Hitler não liderou um exército de soldados de chumbo, eles eram de carne e osso, pessoas com sentimentos, emoções, desejos e vontade, tinham famílias, alguns após um dia árduo de trabalho nos campos de concentração provavelmente paravam para brincar com seus filhos, beijavam a esposa, faziam compras, se divertiam, iam a festas, aos parques, cultivavam jardins, admiravam as flores, ouviam músicas. Como ele fez para que eles agissem como se tivessem cancelado todas estas atribuições que fazem parte do ser completo e diverso que cada um de nós somos? Como pode um exército pensar da mesma maneira e não questionar cometendo atrocidades tais que até hoje escandalizam o mundo? Muitas vezes estas perguntas ainda permeiam nossas escolas, nossos fóruns e nossas mentes quando a história é relatada.

Será que houve uma concessão unânime de consciência, uma entrega total nas mãos de um outro ser, uma dominação que tirava deles qualquer tipo de sentimento sem o mínimo questionamento? Ou este é um exemplo de utilização do poder da palavra, da força do carisma, do poder de dominação que uma pessoa pode exercer sobre outras e transformar um grande número de pessoas em uma massa uniforme, dominada, sem pensamentos próprios ou senso crítico. Como se pode conseguir tal façanha? Seria apenas através de imposições, de terror? Ou de uma força pessoal superior que tem como característica uma mente que utiliza técnicas de subjugar, mesmo que de maneira inconsciente, mas que com o tempo através de testes (talvez também inconscientes), sem que sejam vistos como tais, vai experimentando o poder cada vez maior de subjugar, chegando ao ponto que qualquer desejo, qualquer palavra expressada passe a ser uma ordem que será cumprida até mesmo com grande “prazer” pelos receptores. O que vai gerando cada dia mais desejo de sentir até onde o domínio pode ser exercido, criando um limiar muito fino entre o empenho e a possessão. Daí a possibilidade de dizer que existe um poder extremo na utilização da palavra, que pode levar as pessoas a aceitar o errado como certo e o certo como errado. Tudo se pode “inculcar”, para isto basta haver mentes dispostas a se posicionar para tal.

As pessoas podem ser guiadas, as pessoas podem ser transformadas em soldados de chumbo, as pessoas podem ser levadas a fazer o que não tem a menor intenção de fazer, quando têm suas mentes dominadas pelo poder que influencia através das palavras, que podem gerar vida e que podem gerar morte. As palavras podem levar pessoas a experiências emocionais que poderão se confundir com qualquer sentimento que ela deseja ter. Muitos são os homens que mesmo dominando apenas no meio onde vivem carregam a pretensão de controlar os outros para levá-los a executar aquilo que lhes convém, aquilo que irá remeter aos outros o seu sucesso. Por mais interessante que possa parecer, por melhor que possa parecer um intento para o qual se acredita que as pessoas devam ser levadas, melhor seria apontar as opções de maneira imparcial, sem uso da tirania. A escolha feita após julgamento das opções traz maior consistência a qualquer intento. E inclusive gera maior prazer a qualquer mentor que tenha uma mente sã. Porém no temor da rejeição que se confunde com o poder, o terror, as ameaças, as imposições, são armas constantemente usadas para que ao final apenas uma opção seja executada. Muitas vezes ameaças são vistas como estímulos, imposições são vistas como incentivos, apenas trocam-se as palavras, mas a conotação é a mesma e tem a mesma força.

Motivações ardilosas que podem transformar um grupo em massa uniforme, que de maneira estratégica são impostas sutilmente, mesmo que não pareçam planejadas, insinuando naturalidade, talvez implantada por pessoas que nem têm a intenção nem capacidade de percepção para planeja-las, mas que assimilam aos resultados obtidos por outros e o fazem com desejos até mesmo genuínos de ter um grupo homogêneo que se estabeleça.

Algumas motivações utilizadas:

- Fazer parte de uma organização que sobressai.
- Galgar posições dentro da organização.
- Poder exercer influencia sobre outras pessoas.
- Ser mencionado publicamente.
- Ver a si mesmo como a solução para os problemas dos outros.
- Fazer parte de um grupo seleto.
- Possibilidade de ser selecionado para tarefas importantes.
- Ter um ideal para seguir.
- Ter algo para defender.
- Possibilidade de ter as opiniões consideradas no grupo.
- Referir-se a um movimento como parte dele.
- Ter segredos da organização confiados a si.
- Ser considerado um escolhido.

Então o grupo começa a pensar desta maneira:

Faço parte de uma organização que sobressai e tenho muitas possibilidades de subir nesta organização e ainda posso exercer influencia sobre outras pessoas, pois sempre sou mencionado publicamente por meu líder. Vejo meu envolvimento como solução para o problema de muitos, porque faço parte de um grupo especial. Sempre que há tarefas importantes me dão para fazer, por isso agora sim tenho um ideal, encontrei motivo para viver! Minhas opiniões são consideradas dentro deste movimento tão importante do qual faço parte. Muitas coisas são reveladas apenas para pessoas maduras como eu porque fui escolhido para este grupo diretamente pelo líder.

Sentindo-se um ser áureo que irá prestar excelentes serviços ao mundo agindo em acordo com qualquer ordem daquele que tem dado a valorização que sempre julgou merecer. Então qualquer ordem irá parecer coerente, a partir de um determinado momento, até mesmo as repreensões em público serão vistas como um cuidado genuíno do “guia”, todas as ordens por mais ridículas que possam parecer serão executadas sem nenhuma discussão, porque juntamente com as sutilezas muito marketing pessoal foi feito pelo mestre que demonstrou várias vezes que tinha razão de sobra através de suas histórias que ele tem moral e autoridade para “mandar”, e contraria-lo poderá ser julgado como um “sacrilégio”, como uma ofensa não apenas a sua pessoa, mas a organização e todo aquele questionamento por mais inocente que seja, deverá ser considerado como um ultraje e não deverá ser admitido, para isto todos devem se empenhar em delatar e rejeitar tudo que ouvirem que estiver contra o ideal defendido.
NÃO PRECISAMOS VIVER ASSIM,
É PRECISO ABANDONAR A INÉRCIA, É PRECISO PENSAR!

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