Síndrome de LOST, os Fariseus são os outros.

No seriado LOST uma das coisas que chamam a atenção é o fato de que os protagonistas se referem aos demais participantes da saga que estão na ilha como “os outros”. Eles são os bons, os outros, nem tanto.

Esta característica é inerente a todos de alguma maneira, quase sempre quando expomos nossos pontos de vista, quase sempre quando criticamos atitudes alheias, assumimos também uma postura semelhante, ou seja, nós somos os bons, nós estamos fazendo e agindo da maneira correta, porém os outros... coitados, estão fazendo e agindo de maneira equivocada, estão errados ou são ruins porque não partilham da nossa maneira de ver as coisas, porque não fazem parte do nosso grupo.

Fiz a algum tempo uma letra para uma música baseada nas palavras de Jesus aos Fariseus e a estava cantando sempre como no texto, dirigindo aos outros, mas lá no texto era Jesus quem estava dizendo, e para me safar, até coloquei o nome da música como: Foi Ele quem disse. Ouvi uma palavra do Chico neste final de semana, e ele dizia: “...cuidado, o fariseu pode ser você, só porque você está agora aqui, você acha que é o bom e o resto é tudo fariseu?” foi o questionamento no meio da reflexão (é lógico que todo o contexto foi relevante para o entendimento da mensagem, a citação é apenas de uma frase solta que me chamou a atenção), naquele momento comecei em pensamento colocar a tal letra na primeira pessoa e pra falar a verdade fica um pouco mais desconfortável para ser cantada, mas é a dura realidade.

Versão original:

Mosquitos ou camelos / mosquitos ou camelos / mosquitos eles querem coar / camelos, estão a engolir. / Raça de víboras / sepulcros caiados / não entram e nem deixam entrar / no Reino de Deus / fazem longas orações / jejuam fazem doações / para serem vistos pelos homens / e são / na verdade já receberam sua recompensa / queriam ser vistos / e foram.

Versão desconfortável:

Mosquitos ou camelos / mosquitos ou camelos / mosquitos eu quero coar / camelos, estou a engolir. / Raça de víbora / sepulcro caiado / não entro e nem deixo entrar / no Reino de Deus / faço longas orações / jejuo, faço doações (quando faço) / para ser visto pelos homens / e sou / na verdade já recebi minha recompensa / queria ser visto / e fui.

Ao nos identificarmos com alguns personagens bíblicos, normalmente, o fazemos com os que tiveram mais sucesso ou que foram bem citados e ainda apenas em alguns momentos particulares em que ficou caracterizada alguma atitude positiva, por exemplo: com a mulher do fluxo de sangue ao tocar em Jesus no meio da multidão, por sua fé e persistência, com o bom samaritano, nunca com o sacerdote e com o levita, com Pedro no dia de pentecostes, com Paulo depois de convertido, com os quatro homens quando levaram o aleijado até Jesus, com Davi no salmo 23, com Moisés na sarça ardente, etc., mas ver o Fariseu em nós? O religioso hipócrita, que faz julgamentos, que coloca pesos nos outros que ele mesmo não consegue carregar, que faz tudo para ser visto pelos homens? nem pensar. Fariseus são os outros.

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