Flores ou Pastel ?

Normalmente o homem generaliza: “Toda mulher gosta de flores” e em qualquer desentendimento ou em algum desejo de agradar, lá vem o “romântico” com um jarro, um buquê ou mesmo com solitária flor para tentar conquistar, reconquistar ou ainda, quem sabe através de uma outra leitura, barganhar um carinho, um afago, ou até mesmo algo mais “caliente”. Porém quem disse que toda mulher gosta de flores? Há mulheres que preferem ser lembradas com atitudes simples, quem sabe apenas um pouco mais de tempo juntos, ou mesmo um compartilhar de forma singela de detalhes que sejam comuns para os dois.

Certa vez alguém me disse que passava momentos ruins com sua esposa, uns três meses dormindo de “calça comprida”, e quase sem se falar. Então ele que já não agüentava mais a situação resolveu ir a uma floricultura na volta para casa e fazer uma surpresa para sua amada. Comprou um vaso de flores da época e imaginou pelo caminho afora uma bela recepção por parte dela. Quando chegou em casa ao abrir a porta, qual não foi sua surpresa a reação, ela recebeu as flores colocou em cima da mesa e disse: “Já foi gastar dinheiro com bobagens né?”. Foi um balde de água fria, aliás, foi uma gélida cachoeira sobre as intenções de um romântico por conveniências. E ele me disse: “tá vendo eu tô fazendo de tudo para melhorar o relacionamento, o problema está é com ela”. Em uma primeira leitura, apenas enxergando o lado externo da situação, poderia até concordar com ele, porém ponderando alguns fatores que entram em jogo, veio a pergunta: Ela gosta de flores? E ele disse: mas toda mulher gosta. Não estamos falando de todas as mulheres, estamos falando da sua esposa disse a ele, ao que respondeu: Não, não sei, acho que não. Então dizia, pode ser que aí esteja uma questão importante e ao mesmo tempo simples no seu relacionamento que não está sendo levada em conta, fora a leitura que ela pode ter feito, pois três meses de “secura” dormindo com calça comprida, talvez as flores estavam sendo apenas um álibi para dar uma “esquentada” no ambiente e ela pode ter se sentido assim meio “comprada”. Porém se ela não gosta de flores, se ela não se sente amada de fato e segura de verdade simplesmente por receber flores, do que vão adiantar as flores, você está plantando semente errada ou cuidando do terreno de maneira equivocada. Pode ser que ela se sinta amada apenas por uma simples e despretensiosa lembrança. Então perguntei: Ela gosta de pastel? Sim, respondeu ele com segurança. Pois é parece bobagem, mas pode ser que se você tivesse passado na pastelaria e ao comer um pastel se lembrasse dela e levasse em um saquinho de padaria um pastel, creio que ela teria se sentido muito mais amada e lembrada através de uma atitude singela e tão espontânea.

Dar flores a quem espera receber um pastel, é a mesma coisa do que dar um pastel a quem espera receber flores.

Já pensou?

A mulher toda romântica em casa aguardando o maridão chegar com um buquê de rosas, talvez de azaléias, quem sabe de bromélias ou margaridas, cria um clima a meia luz, prepara uma mesa a luz de velas, coloca uma camisola sensual, perfuma o quarto, troca as roupas de cama após tomar um banho de sais, deixa o jarro vazio apenas esperando o complemento que certamente seu parceiro trará, e lá vem o “grosso” com um saquinho de padaria com um pastel de carne, um de queijo, um de palmito e um de frango?

O clima vai ficar arrasado!
Vai rolar pastel pra todo lado!

É por isso que considero o que ouvi e digo: Se quisermos manter um bom relacionamento é muito importante saber como a outra pessoa se sente amada e naturalmente, pretendendo apenas o bem do outro, investir ali.

A Música da Família


Dia desses fiquei sabendo através do meu filho, que ao término de uma reunião, o pastor convidou a todos para darem as mãos e que juntos cantassem a música da família, quando todos se preparavam, eis que um celular chama e qual era o toque? A música da família, alias, a música da Grande família e como o bendito celular estava no fundo da bolsa da garota com o volume alto e ela ainda nervosa não conseguia encontrar o celular no meio das bugigangas que abundam as bolsas femininas, então todos ficaram esperando o dito cujo ser desligado, quando ela o encontrou, a música já estava no “... também quero catucar”.

O fato é engraçado e se eu estivesse lá, com certeza teria que sair, pois não ia agüentar segurar o riso. Mas quando me foi contado, pensei um pouquinho e disse: É de Deus. Sabe porque? Por que esta música na verdade é muito mais autêntica em se tratando de uma comunidade. Sempre me incomodei quando todo mundo na igreja ia cantar a música da família, não sei porque, mas sempre me soou muito falsa esta música, é muito bonita, mas muito longe da verdade. Principalmente quando chega no trecho “uma família sem qualquer falsidade...”, “... eu sou um com você...”, e aí a gente que por muito tempo fez parte dos bastidores e sabe das malquerenças, das maledicências, das fofocas e dos risos forçados, se tiver um pouquinho de bom senso, nem consegue cantar.

Agora cantar:
“ Esta família é muito unida, e também muito ouriçada, brigam por qualquer razão, mas acabam pedindo perdão... ”. É muito mais autêntico e até mesmo mais bíblico.

Atualizem seus retro-projetores, seus data-shows, e da próxima vez, em lugar da música da família, que tal a música da grande família?

Atire a Segunda Pedra


... a terceira e quem sabe, as pedradas de misericórdia, porque parece que a mulher já está quase morrendo com a primeira pedrada que acertou bem no centro do crânio dela. Assim poderia ter sido o comentário de alguns daqueles que levaram a mulher apanhada em flagrante adultério, se pelo menos não tivessem sido sinceros consigo mesmos largando as pedras um a um e se afastando ao serem confrontados.

Num surto me tornei advogado dos fariseus?


Apenas uma conjectura, caso o fato ocorresse com a casta farisaica de hoje, pois os verdadeiros “grandes moveres” dos nossos dias talvez têm sido o viver de aparências e o auto-engano, a crença na justiça própria de tal maneira que a questão “quem não tem pecado atire a primeira pedra” soaria em nosso tempo, para muitos, como uma permissão-mandamento para atirar a pedra e não o contrário. Movidos por justiça própria, acredita-se realmente que o fato de seguir a lei ou a relação de boas obras, mesmo que somente as partes “praticáveis”, outorgam o poder de julgar quem quer que seja em seus delitos, e assim quantas pedras não têm sido atiradas...

A supervalorização das aparências é o que move o julgamento de que se está correto quando o que se mostra é positivo. Aparências até para si, mesmo que pareça incongruência tal expressão, o auto-engano leva a acreditar de tanto confessar positivamente, que a auto-retidão é que fornece o poder de fazer, de ter e de alcançar. Com a consciência cauterizada por justiças próprias os direitos declarados o são até mesmo diante de Deus como uma cobrança da palavra como a um qualquer, em chantagens baratas, botando o dedo no “nariz” de Deus exigindo que Ele cumpra os caprichos conquistados pela aparência do comportamento moral. Numa relação pagã extremada, uma relação com um deus inseguro, que não sabe o que fazer e que precisa ser cobrado e lembrado das suas obrigações para com seus amos, numa visão perversa e caricata.

Se a contemporaneidade farisaica retroagisse, neste mundo de aparências, de auto-engano aquela mulher estaria mortinha da silva. Ao terminar a notável expressão “atire a primeira pedra”, talvez até Ele mesmo teria levado pedradas, porque como santarrões cheios de justiça própria e ainda mais sendo desafiados por um cara que se queria esfolar. Com o intuito de manter as aparências alguém se atreveria a atirar a pedra, quem sabe para parecer justo e se esconder ou até mesmo por auto-justificativa-auto-enganativa concebida por adoecidas-mentes que não conseguem perceber o mal em si, mas que o identifica com muita facilidade quando apontado nos outros.

O engano da justiça própria como fator de merecimento tem levado muitas pessoas bem intencionadas a “se achar” e como quem se acha, se envaidece e perece cauterizando a sua consciência com a auto-retidão e não vive por confiança, mas pelo que vê, questionando que quem não tem não é, e conseqüentemente, sem perceber naufraga na fé. Mas prega a fé-de-mais e começa a não-cheirar-bem.